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Fala de Especialista: entenda os riscos e cuidados essenciais com a Gripe Aviária

Fala de Especialista: entenda os riscos e cuidados essenciais com a Gripe Aviária

A gripe aviária voltou a ganhar destaque no Brasil após a confirmação de casos em aves silvestres e, mais recentemente, em granjas comerciais. Altamente contagiosa, a doença acende um alerta para o setor avícola e levanta dúvidas sobre os riscos à saúde humana e à segurança alimentar. 

A Zootecnista, MCs Ciências e Tecnologia de Alimentos e coordenadora dos cursos de Agronegócio e Zootecnia da Universidade do Agro, Hellen Sabino, esclarece as principais questões sobre a influenza aviária, incluindo sintomas nas aves, medidas de biossegurança, impactos econômicos e orientações ao consumidor.

 

O que exatamente é a gripe aviária e como ela se manifesta nas aves?

Hellen Sabino: A gripe aviária, ou influenza aviária, é uma doença altamente contagiosa causada por subtipos do vírus Influenza A. Embora afete principalmente as aves, pode, em raras ocasiões, infectar mamíferos, incluindo seres humanos. A manifestação da gripe aviária nas aves pode variar bastante, dependendo do subtipo viral e da espécie afetada.

Quais são os sintomas mais comuns observados em aves infectadas?

Hellen Sabino: Existem duas classificações principais para a gravidade da doença em aves:

Influenza Aviária de Baixa Patogenicidade (IABP)
Nesse caso, os sintomas podem ser leves ou até ausentes. As aves podem apresentar:

  • Sinais respiratórios leves (espirros, tosse, corrimento nasal e ocular);
  • Diarreia;
  • Letargia;
  • Inchaço da face;
  • Queda na produção de ovos e/ou ovos com casca mais fina;
  • Diminuição no consumo de água e alimentos.

Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP)
Essa forma é mais grave, com alto poder de transmissão e mortalidade. Os sintomas são mais intensos e podem surgir de forma súbita:

  • Alta mortalidade: muitas aves morrem rapidamente, às vezes sem sintomas prévios;
  • Sinais respiratórios severos: dificuldade respiratória acentuada, espirros, tosse e secreções intensas;
  • Sinais neurológicos: torcicolo, incoordenação motora, dificuldade de locomoção, tremores e paralisia;
  • Inchaços: principalmente na crista, barbela, articulações e pernas;
  • Alterações de cor: crista e barbela podem ficar azuladas ou arroxeadas (cianose);
  • Sintomas gastrointestinais: diarreia, às vezes esverdeada;
  • Hemorragias: subcutâneas em pés e outras regiões, além de órgãos internos;
  • Queda drástica na produção de ovos, com deformações ou interrupção completa;
  • Recusa alimentar e penas com aspecto deteriorado.

Quais medidas de biossegurança são fundamentais para evitar surtos em granjas comerciais?

Hellen Sabino: As medidas de biossegurança são essenciais e devem ser aplicadas de forma rigorosa e contínua para prevenir surtos. São elas:

Controle rigoroso de acesso

  • Pessoas: acesso restrito apenas a funcionários essenciais. Visitantes devem seguir protocolo rigoroso (banho, troca de roupas, desinfecção de objetos).
  • Veículos: uso de arcos de desinfecção na entrada e saída; registro detalhado dos acessos.
  • Materiais e equipamentos: devem ser limpos, desinfetados e, idealmente, de uso exclusivo da granja.

Barreiras físicas e estruturais

  • Cercamento completo da granja;
  • Instalação de telas em janelas e portas para evitar entrada de aves silvestres ou animais vetores;
  • Eliminação de ninhos nos telhados e arredores.

Higiene e desinfecção

  • Limpeza rigorosa entre lotes e rotineira nas instalações com desinfetantes eficazes;
  • Chuveiros, troca de roupas e calçados para os funcionários;
  • Pedilúvios e rodolúvios com solução desinfetante.

Manejo de aves e resíduos

  • Aquisição de aves apenas de fornecedores certificados;
  • Controle eficaz de pragas;
  • Descarte adequado de carcaças (incineração, compostagem ou enterrio);
  • Tratamento ou descarte apropriado da cama aviária.

Monitoramento e vigilância

  • Observação diária e treinamento de funcionários para detecção de sinais clínicos;
  • Manutenção de registros detalhados de produção e consumo;
  • Notificação imediata ao MAPA ou à defesa agropecuária estadual em caso de suspeita.

Gerenciamento de água e alimentos

  • Proteção das fontes e caixas d’água;
  • Armazenamento seguro da ração, longe de vetores.

Treinamento e conscientização

  • Capacitação contínua dos funcionários sobre biossegurança, riscos e procedimentos.

O Brasil está preparado para conter rapidamente surtos como o registrado no RS? Quais são os impactos econômicos da suspensão das exportações?

Hellen Sabino: De forma geral, autoridades e especialistas consideram que o Brasil está preparado, embora o caso no RS acenda um alerta. O país possui um sistema de defesa agropecuária robusto e reconhecido internacionalmente.

Principais pontos de preparação:

  • Plano de contingência detalhado com notificações imediatas, abate sanitário, isolamento, quarentena e restrições de movimentação;
  • Sistema de vigilância epidemiológica com monitoramento de aves silvestres e criações;
  • Atuação preventiva do MAPA em casos suspeitos antes que cheguem a granjas;
  • Cultura de biossegurança já consolidada no setor avícola;
  • Comunicação transparente com a OMSA e os parceiros comerciais;
  • Experiência anterior no combate a doenças como a febre aftosa.

Desafios:

  • Dimensões continentais dificultam controle de aves silvestres;
  • Presença do vírus em migratórias representa risco constante;
  • Aves criadas em sítios ou quintais com baixa biossegurança aumentam a vulnerabilidade.

Existe algum risco no consumo de carne de frango ou ovos no Brasil?

Hellen Sabino: Não. O consumo é considerado seguro por autoridades como o MAPA, a OMS e demais entidades. A gripe aviária não é transmitida por meio de alimentos preparados adequadamente.

Motivos para a segurança:

  • A doença é respiratória, transmitida por contato com aves infectadas, não pela ingestão;
  • O vírus é sensível ao calor — temperaturas acima de 70°C o inativam completamente;
  • Carnes e ovos bem cozidos são seguros;
  • Aves infectadas ou expostas são eliminadas e não entram na cadeia alimentar;
  • Produtos passam por inspeção rigorosa antes de serem comercializados;
  • A suspensão das exportações é preventiva, não por risco ao consumidor interno.

Recomendações ao consumidor:

  • Cozinhar bem carnes e ovos;
  • Lavar as mãos antes e depois de manipular alimentos crus;
  • Evitar contaminação cruzada com tábuas e utensílios diferentes;
  • Higienizar superfícies e utensílios após o uso com produtos crus.

Como tranquilizar a população quanto à segurança do consumo de produtos avícolas?

Hellen Sabino: A mensagem deve ser clara: “O consumo de carne de frango e ovos é seguro!”. O vírus é destruído pelo calor do cozimento, e não há risco de transmissão por meio da alimentação.

  • O sistema de inspeção oficial garante que apenas produtos seguros cheguem ao consumidor;
  • Aves doentes são descartadas de forma segura;
  • Casos confirmados, como o do RS, são isolados e rapidamente controlados;

A comunicação precisa ser baseada em ciência, com linguagem acessível e reforçada por fontes confiáveis.

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